Die Religion Die

Brian “Head” Welch, guitarrista da banda Rock chamada Korn, convertido ao Cristianismo compôs uma musica chamada “Die Religion Die”, o que pode parecer estranho para alguém convertido ao Cristianismo, antes de o julgarmos por isso, pensemos por um momento, no que é em muitos casos, o Cristianismo hoje.

O Cristianismo nasce da pregação de Jesus Cristo, durante três anos, em Israel, há 2000 anos atrás. O ênfase da sua pregação, era a conversão verdadeira a Deus, pela fé, na sua pessoa Jesus Cristo…e o mesmo encontrou a oposição dos fariseus, classe sacerdotal, e dos saduceus…racionalistas entre os grupos judaicos. Jesus apontava a estes, principalmente aos fariseus, o seu legalismo e a sua hipocrisia, estes conluiados com os Herodianos entregaram Jesus aos romanos, que o condenaram à morte, pela crucificação. Segundo os evangelhos, Jesus ressuscitou ao terceiro dia da sua morte, tendo os seus discípulos dado continuidade à sua doutrina.

Tudo isto é universalmente conhecido pelo mundo ocidental e o Cristianismo converteu-se numa religião universal. É este o problema, é que em muitos casos, o Cristianismo converteu-se numa doutrina de regras rígidas e tradicionais, tendo perdido aquilo que o caracterizava no início. Não estou dizendo, que entre os cristãos, não existam seguidores genuínos, mas em muitos casos, uma grande parte dos seus seguidores, tornaram-se autênticos fariseus. Quando Brian “Head” Welch compõem uma canção chamada “Die Religion Die”, é a isto que se refere, Brian é um ex-toxicodependente que viveu um autêntico inferno e certamente deve ter ouvido bastantes “mimos” da parte dos modernos fariseus, que o condenavam pelo seu estilo de vida…e agora o condenam pelo seu estilo de evangelização, bem no meio dos Korn, através do Heavy-Metal. O que Brian prova, é que não existem métodos rígidos de evangelização e nem só a musica dos grandes corais é musica cristã. Sigamos um verdadeiro Cristianismo, e não só um amontoado de tradições e regras humanas.

O Espírito do Rock

Quem me conhece intimamente, sabe que sou cristão, moralmente conservador, politicamente progressista…e que gosto de Rock n´Roll. Como conciliar estas três coisas, num só individuo? As primeiras duas, explicam-se facilmente, sou cristão, de moralidade conservadora mas sou pela justiça social e a democracia…nada de confuso ou indefensável. Mas a terceira coisa bem pode baralhar muita gente, especialmente muitos dos meus irmãos na fé…como posso ser cristão, moralmente conservador e ao mesmo tempo, gostar de Rock n´Roll?

Aparentemente, são duas coisas inconciliáveis…ser cristão e gostar de uma coisa rebelde como o Rock. Tudo se explica facilmente, se tivermos em conta que a palavra chave da musica Rock é a liberdade. Sou a favor de uma arte livre e irreverente, especialmente em musica, e é por isso que gosto de musica Rock. Mas o Rock é hedonista e potenciador de excessos, como sexo desenfreado e drogas…sem duvida que o é, mas eu como cristão, e ser humano, posso rejeitar os excessos do Rock n´Roll e ao mesmo tempo aceitar, que ele seja livre e efusivo, na sua expressão musical. Sou pelo mesmo espírito, na musica cristã contemporânea, salvaguardando os hinos tradicionais que canto todas as semanas na igreja. Eu sou do tempo, em que o Rock era considerado musica do diabo, pela igreja, e dos danos na fé, que isso causou em mim e em muitos jovens. Hoje há muitos jovens na igreja, que gostam de Rock e têm uma livre expressão musical, ao nível de musica cristã, graças a Deus que hoje isso já é possível, não desfazendo nos meus irmãos mais idosos, que têm gostos musicais mais conservadores. No fundo tudo se resume a isso, duas visões diferentes da musica, tanto secular como cristã.

Eis, como posso ser cristão e amante, ao mesmo tempo, de musica Rock.

12 Anos Escravo ou a História de Solomon Northup

Existem filmes e filmes, existem bons filmes, filmes mais ou menos, filmes de entretenimento e maus filmes que não deixam saudades. Se tivermos de classificar, o filme 12 Anos Escravo…escapa a todas estas classificações, é um óptimo filme e decididamente, não é um filme de entretenimento, nem uma história qualquer. Realizado em 2013, este filme é uma história autobiográfica de Solomon Northup, um negro livre de Nova Iorque, escrita em 1853, violinista profissional, casado com 2 filhos, que em 1841, foi sequestrado em Washington D.C., e vendido como escravo, tendo trabalhado por 12 anos no Estado do Louisiana, em diversas plantações, ao fim de 12 anos consegue ser libertado retornando para a sua família.

Assim contado, rapidamente…parece uma história banal, mas não é. É um filme realista, forte e pesado, um autêntico murro no estômago do espectador, onde a brutalidade e o horror da escravatura, desfila perante os nossos olhos. Nesta história ficamos não só a conhecer, o destino de Solomon Northup…mas também a história de Patsey, a bela escrava, estuprada por seu senhor, que pede a morte, e que se enamora de Solomon. Tomamos também contacto, com os argumentos supostamente bíblicos da escravatura, defendidos por alguns na época, o que é uma evidente perversão de tudo o que a Bíblia ensina e diz. Quando o filme termina, saímos de um autêntico pesadelo, e quando estamos fora do cinema, parece que respiramos de alivio por tudo ter terminado.

Assistir a este filme é um exercício aos nossos sentidos, onde ficamos a conhecer a violência que caracterizou a escravatura. É um exercício salutar e necessário para saber o que significou ser escravo, no Sul dos Estados Unidos, sem retoques ou embelezamentos. Recomendo vivamente este filme, se alguma vez tiverem oportunidade de o ver.

Waytin a Sunny Day

Já aqui falei de Bruce Springsteen, vou hoje falar-vos de outra canção dele…waytin a sunny day. Esta canção, é uma canção feliz e optimista, muito popular nos concertos do Bruce. Os concertos dele, caracterizam-se pela animação e regra geral as pessoas saem deles muito bem dispostas. Isso é importante, no carisma de Bruce Springsteen, e já aqui disse que ele dá voz aos sonhos das pessoas. Esta canção é mais uma, com que os seus fãs se identificam e fala-nos, mais uma vez, de esperança e da procura de um dia de sol.

Não deixa de ser irónico, que Bruce Springsteen, já tenha assumido, que sofre de depressão crónica e que há historial de doença mental, na sua família…com efeito, seu falecido pai sofria de esquizofrenia paranoide. Talvez por isso, Bruce tenha escrevido esta canção, para fugir à escuridão na sua vida…não que Bruce não seja uma pessoa sã noutros aspectos, tem uma postura comprometida com causas politicas e humanitárias, não é uma pessoa cinzenta, sabe cultivar a empatia com os outros…mas tem este lado escuro. Estou convencido, que a sua musica é tão dinâmica e envolvente, devido à sua necessidade de combater as trevas, na sua alma, funciona como antidepressivo para o próprio Bruce, e não apenas para os outros.

Que Bruce Springsteen nos continue a brindar com as suas canções, por muitos anos, e sobretudo, que encontre a luz na sua vida, e que nos brinde com ela.

Lendas de Paixão ou Legends of the Fall, o Encantamento

Poucos filmes, tirando o Casablanca e Musica no Coração, me despertaram sentimentos fortes e um clima de encantamento…é o caso de Lendas de Paixão ou Legends of the Fall no original. Tudo no filme nos faz apaixonar, a musica, as paisagens…e a história. O filme abrange três períodos, a I Guerra Mundial, o período da Lei Seca e um breve período de 1963. Realizado em 1994, a partir da novela de 1979, da autoria de Jim Harrison com o mesmo, conta a história do Clã Ludlow, onde Anthony Hopkins interpreta o papel do Coronel William Ludlow, o chefe da família, Alfred Ludlow ou Adan Quinn, que é o irmão mais velho, Tristan o irmão do meio, interpretado por Brad Pitt e Samuel Ludlow, interpretado por Henry Thomas. Há ainda os papéis de Karina Lombard e Christina Pickles, que interpreta a personagem Isabel Ludlow…enquanto criança e jovem mulher, e Julia Ormond, que interpreta a personagem de Susannah Fincannon Ludlow. Isabel Ludlow é a filha de Decker, ou Paul Desmond, empregados do Coronel e Susannah, esposa de Samuel…o irmão que morre na I Guerra Mundial. Susannah vai despertar a atenção dos três irmãos…na verdade a história desenrola-se à volta dela e Tristan, que é o mais selvagem dos irmãos, criado por índios. Susannah, depois da morte do marido apaixona-se por Tristan, mas acaba por refazer a vida com Alfred. No imaginário da família tudo gira à volta de Tristan, que consegue despertar as paixões dos outros.

O que me atraiu no filme, foi o clima emocional que os personagens vivem, e o forte sentimento de união familiar entre eles. Após o suicídio de Susannah e a morte precoce de Isabel Ludlow, tudo o que parecia dividir os irmãos, acaba unindo-os, reconciliando Tristan e Alfred. Tudo é excessivo nesta história, os sentimentos, as paixões e os laços entre eles. A musica é fenomenal e recomenda-se, as paisagens grandiosas. Se querem experimentar, sentimentos fortes vejam este filme e apaixonem-se por ele.

The Last Waltz ou o Filme Concerto

Uma das recordações, que eu tenho dos meus 16 anos, é o filme The Last Waltz ou melhor, o ultimo concerto em 1976, dos The Band, filmado e realizado por Martin Scorcese, e que saiu para os cinéfilos em 1978. Eu já tinha a minha relação de amor com o Rock n´Roll acesa e este filme ajudou a consolidá-la. Tudo me pareceu um sonho, ver o Bob Dylan, o Neil Young, a Joni Mitchel e outros artistas como Neil Diamond, Dr. John, Eric Clapton…o grande Muddy Waters, etc. Este concerto, marcou a vida dos The Band, e é um grande momento de nostalgia, pelos anos na estrada da banda, a droga correu a rodos no concerto…Neil Young surge no concerto, visivelmente pedrado e Martin Scorcese admitiu publicamente, que na altura estava viciado em cocaína…são episódios menos românticos na vida do Rock n´Roll, mas quem não sabe, que drogas e Rock n´Roll sempre tiveram uma relação estreita?

O filme ajudou a consolidar, quais os heróis eu escolheria e lembro-me, que na minha ingenuidade, eu também queria ser musico Rock como eles…o sonho não se realizou, talvez para sorte minha…pois não sei se estaria ainda hoje vivo, tendo em conta, mais tarde, os meus consumos…pecados de juventude. Até hoje, guardo memórias agradáveis, do filme, e se por acaso, o puderem ver alguma vez, recomendo-vos vivamente, pois é um documento de uma época dourada do Rock n´Roll. E é tudo quanto a este filme e concerto…boas audições.

Deve a Arte Ser Politicamente Correcta?

Um debate que está a ocorrer actualmente, é se a arte deve ser politicamente correcta. Confesso que é um assunto difícil para mim, como cristão, acho que a arte deve ter limites…mas achar que a arte deve ser politicamente correcta, parece-me ser uma limitação à liberdade artística…de qualquer dos modos é um assunto que não me deixa confortável. No entanto, tenho algumas considerações sobre o assunto. Se a arte for politicamente correcta, impõe aos artistas, modelos pressupostos, o artista deixa de ser livre de se exprimir e de buscar novas formas, vista por este prisma, a arte não deve ser politicamente correcta.

Porém, esta premissa a que chegamos, conduz-nos a um outro ponto…até onde deve ir a liberdade de um artista? Muitas obras de arte, têm chegado a um ponto tal, que se cai no pornográfico, na bestialidade, no vulgar…a tal ponto, que é legitimo perguntar se é arte, no verdadeiro sentido do termo. Chegados aqui, é evidente, que a arte deve ter um limite, e esse limite é o bom gosto…sob pena de já não ser arte. Quanto ao resto, desde que se respeite essa fronteira, todas as coisas podem ser representadas e estilizadas.

Estão entendendo o meu ponto de vista? Está algures entre a liberdade artística e o bom gosto…dois pontos que devem ser respeitados, para haver arte. Quanto ao resto, deixo-vos a liberdade de se exprimirem…sejam criativos.

A Velha Natureza Humana

Ao longo da história da humanidade, têm aparecido inúmeras guerras e atrocidades…geração vai, geração vem e o ser humano continua igual, independentemente do progresso tecnológico. Ora tudo isto, parece uma contradição, se o ser humano foi evoluindo, desde as sociedades primitivas, até à era actual, da informática, era de esperar que as guerras tivessem sido erradicadas…não é o que acontece, antes pelo contrário, as armas modernas, têm um poder mil vezes destrutivo, que as armas primitivas. Vários motivos têm sido apontados para as guerras, a religião, o petróleo…a ambição humana. Na verdade, de todos os motivos apontados, incluindo para as guerras religiosas, a ambição humana é o motivo principal…o homem anseia mais e mais, em matéria de recursos e poder, nunca está satisfeito com o que tem, quer sempre mais…essa é a velha natureza humana desde o principio dos tempos. Na verdade, em todos nós, existe, simultaneamente, uma inclinação para a paz e para o bem…e uma inclinação para o mal. Antes de estarmos em guerra com os outros países, estamos em guerra com os outros…e connosco próprios.

Perante este quadro, o que é que pode refrear, o nosso lado selvagem?

Especialistas têm feito essa pergunta, e a única resposta que encontram, é a religião, a filosofia, as artes e as humanidades. Estas são as coisas, que permitem controlar os nossos impulsos mais destrutivos…todas as religiões têm uma coisa em comum, que é a velha máxima “não faças aos outros, o que não queres que te façam a ti”, as artes e as humanidades têm igualmente um potencial, de desenvolver o que de melhor existe em nós. No fundo é a velha história que se conta, de uma criança, que foi ter com o chefe da tribo dizendo: Às vezes as pessoas parecem-me boas, outras vezes parecem-me más, qual é o motivo para fazerem tanto mal umas às outras? O chefe da tribo respondeu: Isso é porque têm dois lobos lutando entre si, dentro deles…um lobo bom e um lobo mau. A criança foi-se embora, mas voltou depois com outra pergunta: E qual dos dois é que vence? O chefe respondeu: Aquele que mais alimentarmos.

O Tempo do Calhambeque

Uma vez em conversa, com um amigo, comentei que estava a ouvir, musica da banda Fairport Convention. Ele ouviu um tema, cantado pela Sandy Denny, a mítica cantora dos Fairport Convention, de 1968 a 1969, e em 1976, e acabou por comentar “O Rock Psicadélico está ultrapassado” e “Tu só ouves musica do tempo do calhambeque”. Devo dizer, que ele cometeu um erro, ao definir a musica dos Fairport Convention como Rock Psicadélico…é na verdade Folk Rock, e depois, achou que era musica menor…só porque é antiga, na verdade, tem a irritante mania, de só valorizar a musica actual.

Bem, eu não tenho nada contra a musica actual, desde que seja boa musica, mas muitas pessoas, cometem o erro de desvalorizar a musica mais antiga, só porque é antiga. Na verdade, os anos 60 e 70, foram cruciais no desenvolvimento da musica, e muitas das melhores obras da musica, são dessa época.

Quanto à Sandy Denny, foi uma cantora genial, cuja vida foi ceifada precocemente ceifada por uma hemorragia cerebral, em 21 de Abril de 1978, aos 31 anos de idade. A sua voz, é uma das melhores vozes, da musica desse período, dos Fairport Convention. Hoje, muitos artistas, têm um sucesso imediato, sem a metade do esforço e das vicissitudes, que os artistas dessa época, tiveram de enfrentar…eu atrevo-me a dizer, há hoje, muita musica de plástico…que tem um sucesso duvidoso, passando nas rádios e na internet, que é consumida massivamente. Talvez eu seja antiquado, mas prefiro ser antiquado, pelas melhores razões, que ser actual, pelas piores razões…tenho dito.